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Por Rafael Souza
“O homem que trabalha perde tempo precioso” Domenico de Masi
Opa! Calma…..
Entendo como pode se sentir após um árduo dia de trabalho para tornar, sua start up, projeto ou empresa financeiramente sustentada e, no fim deste intenso dia, se deparar com um insulto deste, ainda mais ao saber que este que voz fala, enquanto escreve, se percebe descalço, sem camisa e saboreando um delicioso açaí com cacau.
Um segundo de respiração profunda…
Antes de considerar tal citação “ultrajante” para sua prática empreendedora, eu o convidaria a refletir lendo este breve artigo.
Quem é este homem? Que trabalho é este? E que tempo precioso é este de que tanto falamos?
A frase proferida pelo sociólogo Domenico de Masi em seu livro “O ócio criativo”, ainda mexe com a mente de muitos empresários e empreendedores por aí a fora.
Segundo De Masi, “o futuro pertence a quem souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho como obrigação ou dever e for capaz de apostar num sistema de atividades, onde o trabalho se confundirá com o tempo livre, com o estudo e com o jogo, ou seja, com o “ócio criativo”.
Para se compreender melhor o que o autor define como “ócio criativo”, é necessário que percebamos o processo de desenvolvimento da nossa espécie, da sociedade industrial e pós-industrial compreendendo, a partir daí a profundidade dos temas como tempo livre e criatividade.
O desenvolvimento do termo “ócio criativo” originou-se da experiência com os diversos absurdos organizacionais que tornam o trabalho nas empresas angustiante. Segundo Costa, partimos de uma sociedade onde uma grande parte da vida das pessoas adultas era dedicada ao trabalho e caminhamos hoje, para o desenvolvimento de uma nova sociedade, em que parte do tempo será dedicada a outra atividade.
Atualmente fazemos muito mais coisas com o cérebro que com as mãos , ao contrário de como fizemos nos últimos milhares de anos, uma profunda e “rápida” transformação comportamental.  Segundo o autor, a espécie humana foi um divisor de águas na história da vida na Terra, a começar por uma característica, nossa imperfeição. “Somos os únicos animais que precisam de ao menos 10 anos de assistência para que nos tornemos indivíduos em condições de sobreviver.” Em função disto, “não recomeçamos sempre do início, mas, além das características hereditárias e do saber instintivo”, recebemos dos adultos o “saber cultural.”.
Passamos por todo nosso processo evolutivo, aprendendo a dar, não apenas funcionalidade, mas também significado ao que estava ao nosso redor, modificando cenários e construindo beleza ao que passamos a produzir, seja para conseguirmos uma “graça dos deuses”, ou para nos sentirmos bem. A sociedade industrial, pelo contrario “isolou o belo, expulsando-o do mundo do trabalho”. Fomos conduzidos a um modelo de trabalho que permitiu a milhões de pessoas agirem “com o corpo, mas não lhes deixou a liberdade para expressar-se com a mente. Na linha de montagem, os operários movimentavam mãos e pés, mas não usavam a cabeça. A sociedade pós-industrial oferece uma nova liberdade: depois do corpo, liberta a alma.”.
Segundo De Masi, para vivenciarmos de forma plena este momento pós – industrial, é necessário que se reavalie a organização e os ritmos desenvolvidos em nossa fase industrial. Não nos é mais conveniente, sequer necessário, viver uma rotina de trabalho que nos separe de nossas demais atividades – assim como vivíamos antes do desenvolvimento do modelo de indústria – onde dedicavamos oito horas do dia para o trabalho, oito horas para dormirmos e as demais oito horas para “nos divertirmos” (se entendermos também por divertimento o tempo que ficamos parados no trânsito em grandes cidades, nas filas de supermercados e as tantas outras atividades que, por incrível que pareça, ainda existem mesmo quando trabalhamos).
A separação entre trabalho e divertimento (ou jogo, como cita De Masi), perdeu boa parte de seu significado. Segundo o autor, tal distinção não se presenciava na época rural. Camponeses e artesãos viviam no mesmo lugar em que trabalhavam e suas atividades de trabalho se misturavam às domésticas e a “cantorias e outras distrações”.
Para De Masi, quando conseguimos conciliar todas estas dimensões, quando trabalhamos, aprendemos e nos divertimos (seja em atividades de lazer, com os amigos, com a família, ou até mesmo sozinho) tudo ao mesmo tempo, estamos vivenciando o “ócio criativo”.
Tal visão, como muito facilmente é percebida sendo aplicada por muitas das maiores empresas de tecnologia do mundo, é, sem dúvida, uma tendência crescente, sobretudo, segundo o autor, no Brasil onde, como “em nenhum outro país do mundo a “sensualidade”, a “oralidade”, a alegria e a “inclusividade” conseguem conviver numa síntese tão incandescente”.
De Masi defende que, quando se vive o ócio, a filosofia é idêntica a de um comportamento em que, no trabalho, é considerado ético se são evitados resultados vantajosos para si e prejudiciais para os outros. Pode se viver o ócio “com vantagens para si e para os outros, sem prejudicar ninguém. Neste caso, e somente neste caso, se atinge a plenitude do conhecimento e da qualidade de vida.”.
De fato, vivenciar o ócio criativo, como propõe De Masi, é, sobretudo, “uma arte”, a arte de conciliar trabalho, aprendizado e lazer ao mesmo tempo, potencializando sua capacidade criativa e colocando-a em prática para seu próprio benefício e daqueles que estão ao seu redor, de maneira cada vez mais eficiente e prazerosa.
Como já dizia o grande sábio Confúcio “Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida”
Nos próximos dias estaremos trazendo mais reflexões sobre como atingirmos o estado de ócio criativo, portanto, se você se sentiu provocado a conhecer mais sobre este conceito, acompanhe nosso blog e saiba mais sobre o Workshop Ócio Criativo, que acontecerá entre os dias 13 e 18 de Fevereiro em Curitiba, na Airumã Estação Ambiental.
Acesse nossa página nosso site ou entre em contato conosco pelo e-mail contato@designaovivo.com.br ou pelo telefone 4196271914/4199530324
Uma ótima, ociosa e criativa semana!
 
Referência
 
DE MASI, DOMÊNICO. O ócio Criativo. Rio de Janeiro. Sextante. 2000