O Slow Design é um convite para contemplar o verdadeiro ritmo das coisas, observar e observar-se. Vivenciar o processo de produção de um produto por completo, com atenção.
Alexandre Linhares, designer de moda e participante da edição 2014/2015 do Programa de Ecodesign, nos brindou com um belo relato sobre o seu trabalho. Sobre viver a construção de uma peça de roupa como um artista compõe uma poesia.

Abertura do desfile IDFashion, dia 29 de setembro de 2017, modelos com roupas coloridas se referindo às ‘bandeirolas de orações tibetanas’ com frases de mensagem ligadas ao ‘acolhimento, oferta, estrutura, limite e transformação’ para se propagarem no mundo

“Neste momento contemplo o slow.
São 1:36 a.m. e me vejo sentado numa cadeira Cimo, bordando uma Nossa Sra. Aparecida para nosso desfile “de 10 anos de trabalho”, daqui duas semanas. O motivo de estar sendo bordada essa hora, em casa, é porque ela alude à primeira peça, que sintetiza o início da marca, bordada pela Thifany numa camiseta que “apareceu para aos olhos certos” e fez nosso trabalho acontecer.
Essa peça foi bordada pouco a pouco, todas as noites, quando minha companheira chegava do trabalho e seguia na finalização das peças confeccionadas naquele dia. A Santa transpassou semanas de bordado, minuciosamente executada à noite, em casa.

Vestido Nossa Sra. de Aparecida – abertura do desfile “Poesia Desilusoria” no IDFashion

No desfile, ela virá maior, preta e branca, pintada num vestido amplo feito com metade de um lençol muito antigo, de algodão, que ganhamos da poetisa Priscila Prado. As dimensões e emoções já são outras, mas o bordado por cima da imagem será o mesmo da década passada, com o mesmo preciosismo e a mesma atmosfera na criação: bordada em casa, depois de chegar do trabalho, depois de tomar banho, com uma caneca de chá ao lado. Constantemente, me é questionado o porquê de o trabalho ser feito desta forma, nesse ritmo, a esse custo, com essa carga emocional. E a única resposta que me brota é a de que “é assim que me faz sentido”.
Sei que o mundo é outro do de 10 anos atrás, eu sou outra pessoa e minha companheira é outra pessoa também, mas o brilho da intenção da peça se materializar é o mesmo. Quanto ao lençol de algodão que dá corpo à obra, ele já era antigo há 10 anos, já não era mais usado e já era guardado com memória. Toda a memória e todas as histórias de amor vividas em cima dele, pessoas feitas, o tempo que ele ficou na mão da primeira bordadeira que, num “avesso-perfeito”, bordou as iniciais da noiva, de que agora me aproprio e estou quase “pixando” um patrimônio, com a interferência de Nsa. Sra. Aparecida, tudo isso vai entrar na passarela com a gente nesse momento e é tudo isso que vai suportar a imagem de uma santa bordada à mão em casa, por noites a fio. Não é um vestido de tecido branco bordado.
O slow não foi me ensinado, ele me apareceu. Foi assim que sempre me foi possível de ser feito.
Quando eu entrei na escola Design ao Vivo, percebi que o modo que eu construía o meu trabalho é bem semelhante a outros tantos processos de outros criadores e que este processo é chamado de “Slow”, “slow design, slow fashion, slow food, slow life” que vem de encontro ao “fast” do “fast-fashion”, por exemplo.
Esse processo é distinto de modismo, não vem de gosto ou vontade, ele é uma forma de viver e de se relacionar com o mundo. Um leque se abriu e a poesia da construção de cada peça, dessa forma, é o combustível e a razão da execução do trabalho.”
Com este belo relato,  nós lhe convidamos para Laboratório de Slow Design que se inicia este mês.
O laboratório tem início dia 10 de outubro e dia 02 foi realizada uma palestra especial para apresentar o curso, que vc pode conferir na íntegra AQUI:
Sentiu o chamado?Então inscreva-se no link!
https://designaovivo.typeform.com/to/QvfpvL
Saiba mais em:
https://www.designaovivo.com.br/slow-design-lab/

Alexandre Linhares é formado em Design de Produto pela UFPR e atua como criativo na H-AL. Participou do Programa de Ecodesign na Escola Design ao Vivo, em 2014/2015. Tem sua produção focada em peças de arte vestíveis, feitas da maneira mais respeitosa possível com o planeta e o meio vivo, se utilizando de descarte, tecidos rejeitados pela indústria e reaproveitamentos de outros suportes.